A recente divulgação do Acórdão 1913/2024 pelo Tribunal de Contas da União (TCU) oferece uma lente objetiva sobre a maturidade da gestão estratégica no setor público federal. Os dados revelam avanços, mas também escancaram fragilidades que comprometem a efetividade do planejamento estratégico como instrumento de transformação organizacional.
Segundo o levantamento, 59% das organizações avaliadas atingiram um nível “satisfatório” de gestão estratégica — um crescimento modesto em relação aos 56% registrados em 2021. No entanto, apenas 36% alcançaram o estágio considerado “aprimorado”, e 28% permanecem em nível “inicial” ou “inexistente”. Tais números refletem a persistente dificuldade de internalização do planejamento como prática gerencial efetiva.
A avaliação realizada pelo TCU não se restringe à existência de documentos formais, mas foca nas práticas de gestão estratégica: presença de indicadores, governança de riscos, monitoramento de desempenho e alinhamento institucional. Ou seja, não basta planejar — é necessário acompanhar, avaliar e ajustar a execução de forma contínua.
Importante enfatizar que muitas organizações contratam consultorias, desenvolvem mapas estratégicos sofisticados e promovem oficinas de planejamento, mas falham em incorporar essas diretrizes no cotidiano gerencial. Essa distância entre planejamento e execução prejudica o alcance de resultados, desmobiliza equipes e fragiliza a cultura organizacional.
Outro dado preocupante é o declínio observado em duas práticas específicas: a promoção da gestão estratégica e a avaliação do desempenho institucional. Embora o TCU reconheça mudanças metodológicas como causa parcial dessa queda, o recado é claro: é preciso reforçar os mecanismos de monitoramento e tomada de decisão orientada por evidências.
O diagnóstico do TCU também revela que o planejamento estratégico ainda não ocupa o papel central que deveria na governança pública. Muitas decisões continuam sendo reativas, pautadas por urgências políticas ou administrativas, em vez de seguir uma lógica estruturada de longo prazo. A consequência é uma gestão marcada pela instabilidade, desperdício de recursos e baixa capacidade de inovação.
Nesse cenário, desponta o planejamento como um dos pilares da governança, ao lado da liderança e do controle. O uso efetivo do planejamento estratégico contribui não apenas para alinhar esforços internos, mas também para prestar contas à sociedade e reforçar a legitimidade das instituições públicas.
Assim, o TCU cumpre um papel crucial ao diagnosticar falhas, estabelecer parâmetros e incentivar melhorias. Mas a transformação depende de cada organização pública — de sua disposição em rever práticas, capacitar equipes e institucionalizar a gestão estratégica como instrumento permanente e evolutivo.
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