A governança pública eficaz se estrutura em um tripé fundamental: a liderança que aponta a direção, a estratégia que define o caminho e o controle que assegura a capacidade de correção da rota. Essas três dimensões, intrinsecamente conectadas, são vitais para que as organizações públicas não apenas cumpram suas missões, mas o façam com excelência e responsabilidade. Um modelo de governança robusto, como o formalizado pelo Tribunal de Contas da União (TCU), enfatiza a importância de cada um desses pilares para a obtenção de resultados consistentes e a mitigação de riscos.
A liderança de uma organização atua como seu cérebro, responsável por estabelecer o tom, a visão e a cultura. Uma das preocupações primordiais em um bom modelo de governança é o equilíbrio de poderes. A concentração excessiva de poder nas mãos de poucos indivíduos ou um pequeno grupo tem sido, historicamente, um fator crítico em escândalos de corrupção e desvios de conduta na administração pública. A governança, nesse sentido, visa à distribuição inteligente e transparente do poder, através de mecanismos como a segregação de funções e a constituição de colegiados, para evitar pontos de falha únicos e fortalecer a integridade das decisões. Além disso, a liderança deve ser composta por indivíduos bem preparados, que demonstrem integridade e um compromisso contínuo com o aprimoramento, adaptando-se aos desafios complexos e em constante mutação do cenário global. A atualização constante de conceitos é imperativa, dada a natureza dinâmica do ambiente em que as organizações públicas operam.
Uma liderança sólida cria o ambiente propício para a definição de uma estratégia clara e assertiva. A estratégia no setor público não se resume a planos de ação, mas à capacidade de identificar os problemas públicos que demandam solução e os serviços essenciais que precisam ser ofertados com qualidade para o bom funcionamento do país. Em um cenário de intensa competição global, o Brasil, como um player significativo, necessita de uma visão de país e de futuro que transcenda os ciclos políticos de curto prazo, impactando gerações vindouras. A compreensão e o tratamento adequado dos riscos – sejam eles geopolíticos, econômicos, sociais ou ambientais – são elementos intrínsecos à formulação estratégica. Uma estratégia bem definida deve ser compreendida por cada membro da organização, do alto escalão aos colaboradores da base, assegurando que todos trabalhem em sintonia para a entrega dos resultados prometidos à população.
Por fim, o controle é o mecanismo que permite monitorar a execução da estratégia e a performance da organização, verificando se ela está de fato caminhando na direção prometida. Diferentemente de épocas passadas, onde a cobrança sobre o uso do dinheiro público era dificultada pela ausência de promessas claras, hoje é imperativo que as organizações públicas sejam constantemente monitoradas em relação aos resultados que entregam à população. A transparência é um pilar fundamental do controle, com a Lei de Acesso à Informação (LAI) de 2011 exigindo que dados sejam públicos, salvo exceções de sigilo. A accountability individual também é essencial: cada gestor é responsável pelos resultados atrelados ao seu cargo, não podendo transferir a culpa por falhas. Conhecer o cidadão-cliente, seus problemas e transformá-los em políticas e serviços públicos é um direcionador crucial. A auditoria interna, por sua vez, atua não como um órgão punitivo, mas como um assessor do alto comando, identificando riscos e avaliando seu tratamento adequado, contribuindo para a robustez da organização.
Em suma, a interconexão desses três mecanismos – liderança visionária e íntegra, estratégia clara e adaptativa, e controle transparente e responsável – é a base para uma governança pública que gera valor, responde aos desafios contemporâneos e promove a confiança na atuação do Estado.

Professor Cláudio da Silva Cruz
Auditor federal de controle externo do Tribunal de Contas da União (TCU), onde atua hoje na Secretaria de Controle Externo de Governança, Inovação e Transformação Digital do Estado (TCU/SecexEstado). É professor do Instituto Brasileiro de Governança Pública (IBGP), tendo atuado também nos temas Contratações, Contratações de TI, Governança de TI e Governança Pública, em nível de pós-graduação. É Mestre em Gestão do Conhecimento e da Tecnologia da Informação (UCB, 2008), com ênfase em Contratações de Serviços de TI no setor público. É co-autor do "Referencial Básico de Governança Pública Organizacional 3ª edição" (TCU, 2020) e membro da equipe do iESGo2024/TCU.
Cursos do Professor
Governança Corporativa Pública - Uma Abordagem Prática de seus Mecanismos

