A frase provocativa do podcast é direta: “Não há sustentabilidade fora da nuvem pública.” Pode soar radical, mas o argumento é sólido: em um mundo digital, onde os serviços públicos precisam ser entregues com agilidade, escala e resiliência, a nuvem deixou de ser uma opção para se tornar uma necessidade.
O atraso do Brasil em consolidar uma estratégia nacional para uso da nuvem, como já fizeram Estados Unidos e Austrália, tem um custo silencioso. Perdemos oportunidades de inovação, escalabilidade e integração. E, mais grave, colocamos em risco a continuidade de serviços essenciais à população.
O que mais impressiona é o dado do autodiagnóstico do SISP, sistema que congrega mais de 220 órgãos federais: até meados de 2023, 60% dos órgãos ainda não usavam nuvem. Os que usavam, faziam de modo limitado, sem política de governança ou com baixa integração entre áreas. Isso revela que o problema não é apenas tecnológico — é institucional.
A nuvem deve ser tratada como infraestrutura estratégica. Isso significa incorporá-la ao ciclo de políticas públicas: desde o planejamento até a avaliação. Significa repensar processos, capacitar equipes e incluir a nuvem nas decisões de médio e longo prazo.
Por isso, o TCU tem razão ao cobrar alinhamento estratégico e ao recomendar a criação de estruturas internas dedicadas ao tema. Mas a liderança dessa transição precisa vir dos próprios órgãos. Começa por capacitar equipes, experimentar pequenos projetos e incluir metas de nuvem no planejamento institucional.
Afinal, não é a tecnologia que muda o setor público — são as pessoas capacitadas que sabem usá-la estrategicamente.
Deixe seu Comentário: Será que estamos conscientes dos riscos institucionais e das oportunidades públicas que estamos perdendo ao não tratar a nuvem como infraestrutura crítica da administração pública?

Professor Breno Costa
Coautor do livro ‘Desmistificando a adoção de Serviços em Nuvem Governamental’ (2019), é Doutor em Informática e Mestre em Computação Aplicada pela Universidade de Brasília (UnB), com foco em Migração de Sistemas Legados do Governo para a Nuvem. Com 28 anos de experiência em Tecnologia da Informação, atua como Diretor de Relacionamento com Clientes no Tribunal de Contas da União (TCU) desde 2008, onde contribuiu significativamente para a especificação e contratação de serviços multinuvem e participa ativamente das definições e decisões relativas à fiscalização e gestão do contrato. Possui certificação em FinOps, avançando no conhecimento da gestão do valor da nuvem para as organizações.