Resolvi começar a escrever aqui trazendo essa afirmação do título, que tem mais camadas do que uma cebola gigante do Outback!
Solta, sem contexto, dá margem a bastante discussão. Poderíamos discutir sobre o grande consumo de recursos naturais pelos provedores de nuvem, principalmente com o advento da IA Generativa. Mas a sustentabilidade que quero trazer é mais específica, diz respeito à capacidade de a operação de TI das organizações públicas manterem-se funcionando por longo tempo. E o ‘funcionar’ vai além de ter os serviços básicos disponíveis, pois é preciso atender às demandas da sociedade, da alta administração, da equipe interna e várias dessas demandas são alvos em movimento.
Por que a nuvem pública é a chave para a sustentabilidade da TI?
Poderíamos também questionar o fato de a afirmação enviesar a solução para a Nuvem Pública, sendo que é a Nuvem Híbrida que tem sido indicada para organizações com menos maturidade, (p. ex., na Portaria SGD/MGI nº 5.950). Bem, sem Nuvem Pública, não há Nuvem Híbrida, pelo menos não da forma que precisamos. E é justamente a Nuvem Pública, provida no mundo inteiro por poucos provedores privados, que tem condições de agregar à essa sustentabilidade, pelo volume de recursos disponível, alta capacidade de investimento e agilidade na oferta e provimento de tecnologias inovadoras, características necessárias para bem atender à sociedade conectada e digitalizada de hoje, mas tão difíceis de garantir nas operações do governo.
Como os provedores de nuvem pública são empresas estrangeiras (basicamente americanos e chineses), há uma preocupação maior em se gerenciar os riscos relativos ao uso incorreto de informações do governo brasileiro. Há restrições normativas que impedem que alguns dados sejam levados para nuvem, ou que exigem que outros dados sejam armazenados em datacenters localizados no território nacional.
Mas o volume de dados que não sofrem restrições tende a ser muito maior, demandando muito mais recursos das nossas operações! Assim, usar a Nuvem Pública com os dados e aplicativos que têm pouca ou nenhuma restrição irá nos ajudar de qualquer forma a ter uma operação mais sustentável, reduzindo o uso do modelo tradicional, baseado em datacenter próprio e de alta complexidade.
Estamos na Segunda Onda de contratações de Nuvem Pública no governo brasileiro. Detalharei em outro post os critérios que usei para fazer essa classificação. Em resumo, na Segunda Onda já temos organizações públicas que executaram um primeiro contrato, ganharam experiência, e propuseram um modelo melhorado de atuação/interação com a Nuvem Pública. Isso em um cenário normativo bem diferente de 2016, a partir de quando ocorreram as primeiras contratações e quando se iniciou a Primeira Onda. Ou seja, há experiências de maior maturidade dentro do governo, que podem ser usadas como modelo para as organizações que estão mais no início da jornada. Dessa forma, podemos avançar mais rapidamente.
Para os meus 7 leitores que chegaram até aqui e ainda estão acordados, volto ao título do artigo: Se não há sustentabilidade fora da Nuvem Pública, o que fazer? Contratar Nuvem Pública? Sim! Quando? Logo!
Um passo fundamental é envolver a alta administração do órgão na decisão de ir para a Nuvem Pública ou para garantir que a decisão já tomada seja implementada, com adequada alocação de recursos (humanos e financeiros). Uma forma de conseguir os recursos pode ser diminuindo a prioridade de outros projetos, postergando-os ou cancelando-os, no caso das organizações que não têm espaço de orçamento nem força de trabalho disponível para começar na Nuvem de imediato, mas reconhecem sua importância.
Ninguém disse que garantir a sustentabilidade seria fácil, disse?
O ambiente no governo brasileiro é muito diverso, com organizações dos mais diferentes portes, com níveis diferentes de maturidade, atuando em diversos domínios, regidas por diferentes normativos. Mas também há várias opções de ida para a Nuvem Pública no momento: contratação direta de empresa de governo, adesão à Ata 3 do MGI, prevista para o segundo semestre de 2024, contratação própria.
Uma coisa é comum a todas estas (nossas) organizações: a necessidade de capacitar a força de trabalho! Esse conhecimento ajudará a definir a estratégia de uso da Nuvem, estruturar a operação, priorizar os workloads a serem migrados, especificar e fiscalizar as contratações tanto dos serviços de nuvem pública, quanto das equipes técnicas, caso seja esse o modelo operacional definido.
A jornada para a Nuvem é um processo longo, de muito passos. Mas como disse Chico Science: “Um passo à frente e você não está mais no mesmo lugar”.