A gestão pública está diante de um divisor de águas. Com a chegada da Inteligência Artificial Generativa (IA-G), o modo como os órgãos públicos trabalham, decidem e entregam valor à sociedade pode ser profundamente transformado. Mas, afinal, o que difere essa nova geração de IA das anteriores — e por que ela é tão relevante para a administração pública?
A IA tradicional já proporcionava ganhos relevantes ao identificar padrões em grandes volumes de dados, possibilitando, por exemplo, o reconhecimento de voz ou imagem. Já a IA generativa vai além: ela cria conteúdos inéditos. Isso inclui redações, resumos de pareceres, sínteses de legislações, imagens, relatórios e até simulações de auditorias.
E os avanços são notáveis. O ChatGPT, por exemplo, atingiu 100 milhões de usuários em apenas dois meses. A Microsoft investiu mais de 11 bilhões de dólares em IA. O TCU, por sua vez, foi pioneiro ao lançar o “ChatTCU”, integrando seu acervo de normas e jurisprudências à IA generativa para facilitar o trabalho dos auditores.
Mas não se trata apenas de tecnologia. É preciso governança, ética, visão estratégica e, principalmente, capacitação. A IA generativa pode alavancar a produtividade, mas também traz riscos se utilizada de forma indiscriminada. Alucinações (respostas incorretas), uso indevido de dados sensíveis e decisões automatizadas sem supervisão humana são apenas alguns exemplos de armadilhas.
A implementação bem-sucedida depende do envolvimento da alta gestão, da definição de políticas claras e do desenvolvimento de uma cultura institucional que compreenda as limitações e os potenciais da IA. Instituições que estruturam seus dados, capacitam seus servidores e promovem experimentações guiadas estarão mais preparadas para colher os frutos da transformação digital.
Deixe seu Comentário: Sua instituição já avaliou os riscos e benefícios da adoção da IA generativa nos seus processos internos?

Professor Rainério Rodrigues Leite
Engenheiro Civil e Bacharel em Direito, com especialização em Direito Administrativo e Gestão Pública. Atua desde 1994 como Auditor Federal de Controle Externo do Tribunal de Contas da União (TCU), onde tem desempenhado diversas funções de liderança estratégica desde 1995. Atualmente, lidera a Secretaria de Tecnologia da Informação e Evolução Digital. Foi um dos idealizadores do ChatTCU, o primeiro chatbot baseado em IA Generativa desenvolvido por um órgão público no Brasil, e liderou a implantação, estruturação e disseminação do uso dessa tecnologia no TCU.