A Nuvem Pública pode viabilizar um gasto menor do que o estimado no modelo tradicional quando se considera o desperdício. Veja o comparativo!
O exemplo que utilizo a seguir é o cenário de compra de um storage corporativo (equipamento de armazenamento de dados) cujo valor pode ficar em torno de alguns milhões de reais para um volume de alguns petabytes de armazenamento (1 petabyte = 1000 x 1000 gigabytes). Pus nos comentários um detalhamento sobre as unidades de armazenamento.
Modelo Tradicional
- Especificação dos requisitos técnicos, volumetria baseado no histórico, demandas atuais e expectativa de crescimento para 5 anos.
- Feita a licitação, recebe-se o equipamento, instala-se e paga-se.
- 20% a 40% do espaço total, já pago antecipadamente, fica ocioso para atender à demanda futura. É provável que uma parte desse percentual nunca seja utilizada.
- Risco de os projetos principais que fariam uso desse espaço de armazenamento adicional serem cancelados e um volume de espaço maior do que o esperado ficar ocioso.
- Como é um equipamento físico, as melhorias durante a execução contratual são muito limitadas, embora possíveis por meio de atualização de software.
- Usualmente a abordagem é one size fits all, ou seja, é uma compra que determinará o padrão para a organização por vários anos. A variabilidade de serviços vai ser limitada em relação à tecnologia. Assim, caso o equipamento seja de “alta performance”, por exemplo, essa opção será a ofertada inclusive para projetos que não necessitem dessa característica. Caso outro projeto precise de performance ainda mais alta terá de se contentar com opção menos adequada, pois calcula-se a média das necessidades e contrata-se de acordo com essa média.
- Não há (na prática) um acompanhamento do controle sobre o uso posterior do equipamento. A contratação foi um ato jurídico perfeito, a despesa foi liquidada e o equipamento foi dimensionado considerando diversas premissas válidas.
Modelo em Nuvem
- Especificação dos requisitos técnicos, volumetria baseado no histórico, demandas atuais e expectativa de crescimento para 5 anos (embora isso não impacte em custo).
- Feita a licitação, é possível iniciar o uso. Configurações de segurança e acesso devem ser feitas.
- Não há pagamento antecipado e não há custo por volume ocioso. Paga-se apenas o que é utilizado durante todo o período contratual.
- É muito provável que o custo da unidade de armazenamento (GB, por exemplo) seja mais alto na nuvem, pois há outros valores agregados ao custo do equipamento, como por exemplo, energia, refrigeração, monitoramento, mão-de-obra para operação, etc.
- Caso projetos sejam cancelados, pode-se mover os dados remanescentes para armazenamentos mais baratos e desalocar o espaço usado, evitando (ou diminuindo) o custo com esses projetos daí por diante.
- O portfólio diverso dos provedores permite que sejam escolhidas as opções mais adequadas a cada projeto, com características e custos diferentes, definidas e orçados em tempo de execução contratual, por meio das ordens de Serviço. Todas as opções que podem ser escolhidas são serviços nativos de armazenamento de dados do provedor.
- Oportunidade de rever os custos periodicamente e de se utilizar versões mais eficientes, mais econômicas (ou ambas), durante a execução contratual, com potencial melhora da qualidade do serviço e redução de custo.
Tentei pegar um caso mais comum para organizações de pequeno e médio porte. Algumas das afirmações que fiz acima não vão se adequar para todos os cenários, pois como já escrevi em outro post, há bastante diversidade nas organizações do governo brasileiro. Tomem apenas como um exemplo ilustrativo.
O objetivo aqui não é fazer apenas mais uma defesa da ida para a nuvem. É de demonstrar que o modelo tradicional de compras públicas de TI, no contexto da alta complexidade da manutenção e da operação de um datacenter nos dias de hoje, tem um componente intrínseco de ociosidade de capacidade, vulgo desperdício. E que usualmente não se tem uma noção exata do tamanho desse desperdício.
Melhores práticas
No governo americano, a ociosidade era de 70% em 2011 e essa foi uma das grandes motivações de se criar uma política pública para uso da Nuvem lá à época.
Essa ociosidade é como um seguro. Caso a realidade demande um volume de dados maior do que foi estimado, ela garante que o serviço continue sendo prestado e que haja tempo para uma nova contratação. Ela é aceita por todos nós (operadores, gestores, auditores), mas é como se fosse um segredo que ninguém comenta.
Nunca houve o seguinte diálogo:
- “Lá no órgão, houve uma mudança de prioridades com o advento da Lei XX e o projeto YY foi cancelado. O espaço ocioso do storage que era de 20%, agora foi para 40%!”
- “Ocorreu diferente com a gente. O crescimento vegetativo do uso de dados, que era de 10% ao ano nos três anos anteriores à licitação, diminuiu para 5% nos dois anos seguintes à contratação!”
Esses exemplos hipotéticos não são falhas de planejamento, que é um processo prévio à contratação. São eventos posteriores, mudanças de cenário, circunstâncias adversas, que ocorrem e vão ocorrer SEMPRE. A questão aqui é que normalmente não há o que se fazer em tais casos, pois os recursos já estão pagos. O modelo tradicional prevê sobra sempre, porque o esforço e tempo necessários para se fazer contratações desse porte e complexidade são altos e é inviável repeti-las com frequência.
O caso descrito acima como Modelo Tradicional é o pior caso, considerando que o equipamento não aceita expansão, ou que ela não foi prevista. O fato é que ele ainda ocorre e não é infrequente. Mesmo nos casos em que há a possibilidade de expansão durante a vigência contratual, ainda há desperdício em algum nível, nesse caso proporcional ao volume da expansão, e ainda permanecem as outras questões acerca de adequação ao uso.
Usei o storage como exemplo hoje, mas é possível aplicar essas considerações de forma similar a outros componentes computacionais. O foco do comparativo é nos modelos, não nos itens isolados.
Impactos no orçamento
Do ponto de vista da despesa pública, a nuvem pode ser muito menos arriscada do que o modelo tradicional, considerando todo o período de execução contratual. Parte-se de um dispêndio menor, que vai aumentando de acordo com o uso real de recursos, sem pagamentos por capacidade ociosa e com um leque maior de opções para cada tipo de projeto. O acompanhamento recorrente do consumo da Nuvem vai ajustar as estimativas feitas no planejamento da contratação para que fiquem cada vez mais próximas à realidade, considerando os eventos posteriores. Ou seja, a Gestão Contratual vai tomando um papel cada vez mais importante nas operações de nuvem, viabilizando o controle dos gastos, por um lado, e oportunizando um aumento do valor para a organização por outro.
Até agora, temos nos voltado para os impactos negativos do uso da Nuvem e buscado estratégias para evitá-los ou minimizá-los. Esse comportamento é necessário e deve continuar. Mas precisamos todos olhar para a Nuvem considerando também os impactos positivos dos riscos que a caracterizam. Isso tem de ser feito não apenas no escopo de uma organização, mas também considerando todo o governo brasileiro. Precisamos responder à seguinte pergunta: O QUE ESTAMOS PERDENDO AO NÃO IR PARA A NUVEM PÚBLICA?