A trajetória da administração pública brasileira nas últimas décadas reflete uma transformação profunda, não apenas tecnológica, mas cultural e estrutural. A análise da evolução dos modelos de governo—do paradigma tradicional (1.0) à visão integrada e centrada no cidadão (5.0)—revela um esforço contínuo para superar a burocracia analógica e alcançar uma gestão eficiente, transparente e responsiva.
No estágio inicial, denominado Governo 1.0, a administração pública caracterizava-se por um fluxo de informação unidirecional e processos majoritariamente manuais. A interação com o cidadão era limitada e a eficiência operacional, baixa. A transição para o Governo2.0, entre 1990 e 2005, marcou o início da digitalização, com o surgimento de portais institucionais e a automação de tarefas básicas. No entanto, essa fase ainda enfrentava o desafio da fragmentação de sistemas e da falta de interoperabilidade.
O salto para o Governo 3.0 (2005-2015) introduziu a era da colaboração e da transparência. A abertura de dados e a integração entre órgãos, exemplificada pela evolução do compartilhamento de informações fiscais e judiciárias, permitiram uma gestão mais conectada. Contudo, foi com o advento do Governo 4.0 (2015-2023) que a transformação digital se consolidou como estratégia de Estado. A adoção de tecnologias emergentes, como Big Data, Inteligência Artificial (IA) e Internet das Coisas (IoT), aliada a metodologias ágeis e foco na experiência do usuário (UX), impulsionou a criação de plataformas integradas como o Gov.BR.
Atualmente, caminhamos em direção à Sociedade 5.0, um conceito que transcende a tecnologia per se para focar no bem-estar humano. Nesse novo paradigma, a governança pública deve ser "superinteligente", utilizando a tecnologia para resolver problemas sociais complexos, promover a sustentabilidade e garantir a inclusão. A Governança 5.0 exige uma mudança de mindset dos gestores públicos, que devem atuar como arquitetos de soluções integradas, pautadas pela ética no uso de dados e pela responsabilidade social.
Para os auditores e gestores do setor público, compreender essa evolução não é apenas uma questão de atualização técnica, mas uma necessidade estratégica. A maturidade digital de uma instituição depende da capacidade de alinhar tecnologia, processos e pessoas em prol de um objetivo comum: a entrega de valor público. Isso implica investir em infraestrutura integrada, segurança da informação e, fundamentalmente, na capacitação contínua dos servidores para lidar com os desafios da era digital.
A implementação de uma governança inteligente requer, portanto, uma abordagem holística que considere os pilares da estrutura digital integrada, o envolvimento dos stakeholders, a qualidade dos dados e a tomada de decisão crítica. Somente assim será possível construir uma administração pública ágil, eficiente e verdadeiramente conectada às necessidades da sociedade contemporânea.
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