Os professores Sérgio Diogo e Klauren Godoi respondem as perguntas mais relevantes associadas ao tema Otimização do Planejamento Estratégico com OKR, envolvendo:
- Planejamento Estratégico OKR
- Objetivos e Resultados-chave
- Inovação Setor Público
- Eficiência Setor Público
- Implementação OKR no Setor Público
- Framework OKR
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O que motivou o surgimento de novas metodologias de gestão, como o OKR, no contexto organizacional contemporâneo?
O surgimento de metodologias como o OKR (Objectives and Key Results) está diretamente relacionado à transformação dos contextos organizacionais nas últimas décadas. As organizações passaram de ambientes relativamente estáveis e previsíveis — típicos do século XX — para realidades caracterizadas por complexidade, volatilidade, incerteza e ambiguidade, ou seja, ambientes VUCA. Essa transformação desafiou a eficácia dos modelos tradicionais de gestão baseados em comando-controle, planos rígidos e metas de longo prazo.
O crescimento exponencial de empresas como Google e Intel exigiu a adoção de um novo paradigma de gestão, mais ágil, flexível e orientado a resultados. O OKR surgiu como resposta a esse desafio, permitindo maior alinhamento entre os objetivos estratégicos e as ações operacionais, ao mesmo tempo em que promove transparência, foco e engajamento. Seu diferencial está na capacidade de unir o planejamento estratégico com a execução prática, através de ciclos curtos, mensuração contínua e participação colaborativa.
Quais as principais diferenças entre os modelos de gestão predominantes no século XX e os que emergem no século XXI?
No século XX, os modelos de gestão predominantes estavam fundamentados na lógica da Revolução Industrial, especialmente nas teorias de Frederick Taylor (administração científica) e Henry Ford (produção em massa). Nessa abordagem, a ênfase recaía sobre a eficiência operacional, a especialização das tarefas e o controle hierárquico rígido. A racionalidade técnica dominava a concepção do trabalho, privilegiando produtividade em detrimento da criatividade ou da adaptabilidade.
No entanto, a transição para o século XXI exigiu uma nova abordagem. Com a digitalização, o advento da Indústria 4.0 e a disseminação da economia do conhecimento, o capital intelectual e o aprendizado contínuo passaram a ocupar o centro da gestão organizacional. O diferencial competitivo deixou de ser a infraestrutura física e passou a ser o conhecimento das pessoas e sua capacidade de colaborar e inovar. A gestão contemporânea valoriza a autogestão, o trabalho em equipe multidisciplinar, a adaptabilidade e a construção coletiva de soluções — elementos cada vez mais indispensáveis também na gestão pública.
Como a transformação digital deve ser compreendida na administração pública?
Embora comumente associada ao uso de tecnologias digitais, a transformação digital transcende a mera digitalização de processos. Trata-se de uma transformação organizacional que implica a revisão profunda da cultura, dos modelos mentais e dos sistemas de gestão. Na administração pública, esse conceito exige uma nova mentalidade: mais orientada ao cidadão, mais sensível às mudanças do ambiente externo e mais orientada a dados.
A transformação digital está menos relacionada à tecnologia em si, e mais à forma como as organizações tratam a informação e a gestão. O desenvolvimento de habilidades como pensamento crítico, autonomia, capacidade analítica e aprendizagem contínua torna-se central para a evolução dos órgãos públicos. A transformação digital, nesse sentido, não pode ocorrer sem a transformação da cultura institucional.
Qual a importância do planejamento estratégico adaptativo em ambientes incertos?
Em ambientes de elevada incerteza, a eficácia dos modelos tradicionais de planejamento estratégico — baseados em previsibilidade e linearidade — torna-se limitada. A célebre frase de Dwight Eisenhower — “Os planos são inúteis, mas planejar é essencial” — revela a importância do processo de reflexão estratégica, mesmo que os planos precisem ser constantemente ajustados.
O planejamento estratégico adaptativo considera a incerteza como parte do cenário e adota ciclos curtos, experimentações controladas e aprendizado contínuo. Essa abordagem é coerente com as premissas da administração estratégica contemporânea, conforme discutido por autores como Henry Mintzberg, que argumenta que a estratégia não deve ser apenas deliberada, mas também emergente. O uso de metodologias como OKR é um caminho eficaz para institucionalizar essa adaptabilidade, especialmente na administração pública, onde as demandas sociais mudam constantemente.
O que é a falácia do planejamento e quais são suas implicações na gestão pública?
A falácia do planejamento, formulada por Daniel Kahneman e Amos Tversky, descreve um viés cognitivo no qual os indivíduos sistematicamente subestimam os tempos, os custos e os riscos de suas ações, ao mesmo tempo em que superestimam os benefícios esperados. Esse fenômeno é especialmente relevante no setor público, onde projetos de grande escala frequentemente ultrapassam orçamentos e prazos.
O problema é que os modelos tradicionais de gestão são baseados exatamente nas variáveis mais sujeitas à falácia: prazos, custos e riscos. O uso de OKRs representa uma alternativa eficaz para combater esse viés, pois propõe metas mais curtas, monitoramento frequente e foco no resultado, permitindo ajustes em tempo real. Assim, promove uma cultura de realismo e aprendizado, substituindo o otimismo infundado pela análise baseada em dados.
Qual o papel do conhecimento e do talento humano como diferencial competitivo no setor público?
Na chamada economia do conhecimento, o capital intelectual é o principal fator de geração de valor. No setor público, isso significa que o conhecimento acumulado pelos servidores, sua capacidade analítica e sua habilidade de resolver problemas complexos são elementos estratégicos. Essa mudança de paradigma implica, como afirma o professor, que o maior diferencial entre instituições públicas não é mais a estrutura física ou os sistemas tecnológicos, mas a qualificação e o engajamento de seus quadros funcionais.
Nesse contexto, promover a formação contínua, a cultura de colaboração, a gestão participativa e a valorização das competências socioemocionais é essencial. A gestão por competências, associada ao uso de ferramentas como OKRs, pode auxiliar na alocação eficiente dos talentos, no desenvolvimento institucional e na entrega de políticas públicas mais eficazes.
De que forma o OKR promove o alinhamento estratégico nas instituições públicas?
O alinhamento estratégico é um dos maiores desafios das organizações públicas. Muitas vezes, os colaboradores não conseguem ver a conexão entre sua rotina de trabalho e os objetivos institucionais mais amplos. O OKR atua exatamente nesse ponto, ao desdobrar os objetivos estratégicos em resultados-chave específicos e mensuráveis, distribuídos por equipes e indivíduos.
Isso permite que todos saibam “para onde estamos indo” e “como estamos contribuindo”, o que fortalece o senso de propósito e aumenta o engajamento. Além disso, o OKR favorece a construção coletiva das metas, a corresponsabilização pelos resultados e o acompanhamento em tempo real da execução da estratégia.
Quais são os principais benefícios da transparência promovida pelo uso de OKRs na administração pública?
A transparência é um dos pilares da boa governança pública. Quando metas e resultados são visíveis para todos na organização — como propõe o OKR — ocorre um efeito positivo em cascata: aumenta-se a clareza de prioridades, melhora-se a comunicação interna e fortalece-se a confiança entre equipes e lideranças.
Ao tornar os OKRs públicos dentro da instituição, promove-se o engajamento, pois cada servidor entende não apenas seus próprios objetivos, mas como esses se conectam aos objetivos coletivos. Além disso, a transparência fomenta accountability, princípio fundamental da gestão pública, pois os gestores podem ser acompanhados em tempo real quanto ao avanço dos resultados esperados. Isso também facilita auditorias, controle social e a avaliação de políticas públicas com base em evidências.
Por que é importante diferenciar esforço de resultado na avaliação de desempenho organizacional?
Historicamente, organizações públicas e privadas avaliaram desempenho com base no esforço — número de horas trabalhadas, quantidade de relatórios entregues, cumprimento de atividades. No entanto, esse paradigma é cada vez mais questionado, uma vez que nem sempre esforço equivale a impacto.
O OKR propõe uma mudança de mentalidade: a gestão deve priorizar a entrega de valor, ou seja, o resultado efetivamente gerado para a sociedade. Conforme defendido por Peter Drucker, “não há nada mais inútil do que fazer com grande eficiência algo que nunca deveria ter sido feito”. O esforço deve ser visto como um meio, não um fim. Desse modo, focar no resultado permite alocar recursos de forma mais inteligente e definir metas com impacto mensurável, o que é crucial para a legitimidade e a efetividade do setor público.
Quais são os principais desafios na implementação da metodologia OKR em instituições públicas?
Apesar de sua simplicidade conceitual, a implementação de OKRs no setor público encontra alguns obstáculos. O primeiro é cultural: muitas instituições ainda operam sob estruturas hierárquicas rígidas e culturas organizacionais avessas à experimentação e à autonomia. O segundo é a resistência à mudança, natural em ambientes que valorizam estabilidade e segurança institucional.
Assim, para que o OKR seja bem-sucedido, é necessário patrocínio da alta liderança, clareza na comunicação da estratégia e capacitação contínua das equipes. Outro ponto sensível é o acompanhamento sistemático dos resultados — algo que exige mudanças em processos, mentalidades e sistemas de informação. Superar esses desafios demanda comprometimento institucional, abertura para o erro como parte do aprendizado e investimento na formação gerencial de servidores.
Como o OKR pode ser compreendido como um “GPS” para a execução da estratégia organizacional?
Pode-se utilizar uma analogia poderosa para descrever o papel do OKR na gestão estratégica: se a estratégia é o mapa, então o OKR é o GPS. Ou seja, enquanto o mapa fornece uma visão geral de onde se quer chegar, o GPS oferece orientação contínua sobre onde se está, qual a distância até o destino e quais os melhores caminhos a seguir.
Esse modelo dinâmico de monitoramento e ajuste contínuo é essencial para a gestão pública atual, que enfrenta cenários instáveis e demandas sociais mutáveis. O OKR, com seus ciclos curtos de revisão e foco em resultados-chave, permite uma gestão responsiva, capaz de corrigir rotas em tempo real. Isso representa um avanço significativo em relação ao modelo tradicional, em que o planejamento é feito uma única vez e raramente revisitado.
Por que metas claras e alinhadas aumentam a motivação e a satisfação no ambiente de trabalho?
A ciência da motivação organizacional aponta que o senso de propósito e a clareza de metas são dois dos fatores mais decisivos para o engajamento no trabalho. O psicólogo Edward Deci, por exemplo, destaca que a autonomia, a competência e a conexão com os objetivos organizacionais são essenciais para a motivação intrínseca.
Assim, quando os servidores públicos compreendem o impacto de suas atividades nos resultados institucionais, eles se sentem parte de algo maior. Isso não apenas aumenta a motivação, como também contribui para a retenção de talentos, o clima organizacional positivo e a melhoria da produtividade. O OKR é um instrumento eficaz nesse sentido, pois promove alinhamento entre o que se faz e o que se busca alcançar, fortalecendo o vínculo entre indivíduo e missão institucional.
Como o OKR se diferencia de outras metodologias como o Balanced Scorecard (BSC)?
O Balanced Scorecard (BSC), criado por Kaplan e Norton, é uma ferramenta consolidada de planejamento estratégico, baseada em indicadores distribuídos por quatro perspectivas: financeira, clientes, processos internos e aprendizado e crescimento. Embora eficaz para formular estratégias de longo prazo, o BSC muitas vezes carece de agilidade na execução, pois suas metas são revisadas anualmente e pouco conectadas à operação cotidiana.
Já o OKR é mais leve, ágil e iterativo. Seus ciclos curtos (geralmente trimestrais) permitem ajustes constantes, foco em prioridades de curto prazo e maior envolvimento das equipes. Assim, o BSC é um bom “mapa” estratégico, mas o OKR é o “GPS” que orienta a jornada. Em ambientes de alta complexidade e exigência por resultados, como o setor público, a combinação entre BSC (como base estratégica) e OKRs (como instrumento de execução) pode ser extremamente poderosa.
Como lidar com a resistência à mudança durante a adoção de OKRs no setor público?
A resistência à mudança é um fenômeno natural, especialmente em instituições públicas, onde a estabilidade é valorizada e os processos costumam ser formalizados. Para enfrentar esse desafio, é fundamental adotar estratégias de gestão da mudança, como proposto por John Kotter: criar um senso de urgência, construir uma coalizão de apoio, comunicar a visão de forma clara e gerar vitórias rápidas.
Então, envolver os servidores desde o início do processo de implantação dos OKRs é essencial. A capacitação também tem papel central — servidores bem-informados e tecnicamente preparados têm mais segurança para experimentar novas metodologias. Além disso, é importante que os primeiros ciclos de OKR sejam tratados como experimentos, com espaço para erros e ajustes, promovendo uma cultura de aprendizado e evolução contínua.
Quais impactos podem ser esperados da adoção de OKRs nas instituições públicas brasileiras?
A adoção de OKRs no setor público brasileiro tem o potencial de transformar profundamente a forma como os órgãos planejam, executam e avaliam suas ações. Entre os impactos esperados estão:
- Maior foco estratégico, com definição clara de prioridades;
- Alinhamento entre os diferentes níveis da administração;
- Melhoria na governança e na prestação de contas à sociedade;
- Estímulo à inovação gerencial e ao protagonismo dos servidores;
- Fortalecimento da transparência e do controle social;
- Maior capacidade de adaptação às mudanças de cenário.
Diversos órgãos da administração pública federal, estadual e municipal já vêm adotando com sucesso essa metodologia, comprovando sua viabilidade e seus benefícios concretos. Em um contexto de demandas crescentes por eficiência, qualidade e responsabilidade social, o OKR representa uma ferramenta valiosa para promover uma gestão pública mais estratégica, ágil e orientada a resultados.
Professor Sérgio Diogo
Bacharelado em Ciências da Computação, Pós Graduação em Desenvolvimento de Sistemas Plataforma Cliente Servidor, MBA em Governança de TI, extensão em Educação Executiva pela ISE Business School, certificados Kanban Management Professional, Kanban Coach Professional, Certificate Scrum Product Owner, Certificate Scrum Master, ITIL 4 Foundations e funcionário de carreira do Banco do Brasil S.A., atuando na área de TI há mais de 20
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Gestão de Metas e Resultados com OKR
Professora Klauren Godoi
Graduada em Química, Administração, Análise e Desenvolvimento de Sistemas, MBA em Gestão de Projetos de TI, Mestra em Engenharia de Produção – Gestão Estratégica de TI, certificada Kanban Coaching Professional, Kanban Management Professional, OKR Certified Professional, OKR Master Certified, Professional Scrum Master I e II, Professional Scrum Product Owner, Customer Experience Professional e Flight Levels Systems Architecture. Funcionária de carreira do Banco do Brasil há 18 anos, sendo os últimos seis anos dedicados à disseminação da cultura de agilidade, com ênfase na implantação do Planejamento Estratégico Integrado com OKRs.
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